quarta-feira, 6 de maio de 2009




O meu pai vivia em Malpica do Tejo, com os pais dele e o irmão. Tinham um café, no centro da aldeia.
Ele contou-me:
«Faltava aproximadamente um mês para completar os meus 11 anos, na manhã de 25 de Abril, tive conhecimento de que nessa noite tinha acontecido uma revolução.
Estava no café dos meus pais, já na altura equipado com uma TV a preto e branco, quando o café começou a encher. Entravam sobretudo os homens mais ligados à política, que tinham conhecimento do que se estava a passar por via rádio.
Quiseram-se inteirar da situação, através da televisão, tendo assim acesso às imagens das manifestações e ao desfilar das tropas que se concentraram em vários locais-chave da capital, nomeadamente rádios, televisão, quartéis, electricidade, água, bem como a residência do presidente Américo Tomás e também as instalações da PIDE.
Ao longo do dia 25 de Abril, o café manteve-se cheio de clientes interessados no golpe de Estado. Faziam comentários, como:
“Somos Livres”, “Já não vamos presos, podemos dar a nossa opinião” ou “Já podemos falar”, embora com alguma timidez.
Lembro-me ainda de chamarem a Revolução dos Cravos, porque em substituição da guerra, utilizavam cravos nos canos das armas.
No momento, não compreendi qual a importância da situação, nem a euforia das pessoas mais velhas. Só depois, com o decorrer dos anos, me apercebi de tão importante que este dia foi para o nosso país.»

Catarina Neves